Postado em 26/08/12 por Roberta Fraga.
Dia
desses eu me lembrei de um professor de
História que tive no, então, ensino médio. Era um bom professor: responsável, cobria seu
conteúdo, falava sempre baixo, respeitava os alunos. Ele cumpria a sua tarefa,
acreditava nela. Mas, ao me lembrar dele, sinto-me profundamente triste, triste
e com uma pontinha de remorso.
Ao
recorrer a essa memória, de onde ressaltei as qualidades do meu professor,
veio, e, por isso mesmo eu o fiz, uma outra memória que remete a um aluno específico
que humilhava constantemente o professor em sala de aula e fora dela. O aluno
tinha um perfil de muitos outros alunos que podem estar lendo este post, por
isso eu peço: de fato o leiam. O aluno era um rapaz daqueles cheios de
hormônios, com poder aquisitivo que lhe dá poder de escolhas (das melhores
escolhas) e que usa, sistematicamente, a sua energia e capacidade para coisas
nocivas que prejudicam outras pessoas, patrimônio de outrem, ele mesmo.
E
esse aluno perseguia o professor. E como perseguia. Tive sorte (acredito)
de não ver o professor chorar. É certo, isso eu sei e isso eu vi, o professor
chorava por dentro e dentre muitas questões de crença nas
instiuições, fé na educação como
saída (única saída) e acreditar no melhor do ser humano; o meu professor (meu
querido professor) precisava colocar comida na mesa dos filhos. E precisava
também ter um sorriso no rosto para chegar à mesa com seus filhos e familiares
e não tirar deles o direito de acreditaem no ensino e nas pessoas.
O meu
professor era negro e era humilhado pela sua cor.
Eu nunca ri
ou participei das coisas que eram ditas contra o professor. Nunca ri, nunca
participei, nunca me posicionei, nunca percebi a gravidade (exceto por agora),
nunca fiz nada. Aí, reside o meu remorso.
E a lembrança
que me resgata, também me pede para voltar no tempo e corrigir isso.
Uma
consciência maior me atingiu agora de como uma pequena coisa, negativa como
era, nem tão pequena como era, na verdade, fazia parte de um amplo quadro em que hoje estamos mergulhados
no panorama da educação. Descaso, desrespeito,
falta e incentivo, falta de fomento…
Uma verdade:
não temos ensino, não temos educação. Considerar indicadores incluindo ilhas de
ilusão de poder aquisitivo e ensino de qualidade, apenas quer dizer que estamos
assolados em maioria, quantidade, qualidade e essência num tremendo vazio.
Nas viagens mentais que tenho feito quanto a isso,
volto no ponto da ofensa e chego, ao final da aula e digo ao meu professor:
“Obrigada, ótima aula professor!” Eu também interesso-me mais por seus
assuntos, germino melhor suas sementes. Agradeço, elogio, reconheço.
Se por
ventura ele estiver lendo, ouso repetir: Obrigada pela aula, professor! A sua
contribuição foi e está sendo muito importante.
Se
outros professores estiverem lendo esta carta, torno a sublinhar:
Obrigada, professores! A contribuição de vocês é muito importante.
E
volto da minha viagem, cheia de dúvidas e
angústias:
Onde foi que
deixamos de respeitar o professor?
Talvez
a resposta esteja na coisificação do ser.
Ainda
pretendo voltar no tempo e dizer a ele que não desista, que faça e aconteça!